O desabafo — 2020, pandemia, gente metendo lokos, e tristeza.

Òjìji Ìgbẹ̀hin aka Ogunmide
5 min readDec 31, 2020

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Pípé là ńpé gbọ́n, a kì í pé gọ̀.
As pessoas se reúnem para buscar sabedoria coletivamente; as pessoas não se reúnem para se tornarem estúpidas.

Eu não sou o tipo de pessoa que gosta de desabafar em redes sociais ou até mesmo aqui no Medium. Provavelmente eu o fiz em algum momento, mas não tenho este costume. O motivo principal é o seguinte: Eu não sou o tipo de pessoa cujo lema é “Falem bem ou falem mal, mas falem de mim”. Não. Não falem de mim. Se pá nem lembrem que eu existo. Realmente não nasci pra ser assunto. (risos)

Porém cá estou eu; escrevendo isto logo depois de dar uma faxina e defumar a minha casa para entrar o ano limpo fisicamente e espiritualmente. E mesmo depois dessa limpeza ainda sim não posso mentir para eu mesmo e dizer que não estou triste, pois estou. No começo do ano eu escrevi sobre solidão nos tempos de pandemia e falei sobre a minha mãe ter me ensinado que o importante era sair da pandemia melhor do que entramos. Refleti muito sobre isso, principalmente agora no último dia desse desastre chamado 2020, onde já não bastava ter um vírus letal com poder para acabar com nossas vidas e de pessoas que são queridas para nós mais rápido do que podemos prever, mas também temos um presidente que está longe de ser um líder e eu nem consigo mais usar qualquer termo para defini-lo. De fato foi uma Fake News danada essa de que sairíamos mais humanos da pandemia. É muito sofrimento para um pretinho só.

Agora, temos também MUITA falta de amor próprio e esse ano evidenciou isto ainda mais. Ògún, Ọ̀ṣọ́ọ̀sí e outros Òrìṣà ọdẹ (caçadores) nos ensinam, tanto como caçador e também como grandes guerreiros, que devemos ser estratégicos sempre, pois guerra por guerra é Maafa e nada mais. Além disso, é importante entendermos que existe sim, há estratégia em uma possível “retirada” e na verdade os tempos atuais pedem isso. Dizer não a um convite que pode vir a ser prejudicial a longo prazo não só para nós mesmos quanto para a nossa família e amigos, e que pode resultar na perda de nossas vidas e de pessoas que amamos, não pode ser visto como algo ruim ou triste. Óbvio que existem situações como trabalho, reuniões importantes, ida ao mercado e etc que não podem ser postergadas, até porque todos nós temos necessidades e compromissos, mas é surreal enxergar que se manter vivo e não participar diretamente da morte do próximo não é algo tão importante assim.

É triste ver vários irmãos e irmãs falando diariamente sobre comunidade, “nós por nós”, “pretos no topo”, e tantas outras hashtags que sugerem união do nosso povo e comunidades quando não temos amor próprio o suficiente para ter cuidado e respeito com nada. Se você não se ama o suficiente para se preocupar com você, vai se preocupar com os outros?

  • ”Ah, eu tenho a necessidade de tomar um banho de mar”
  • “Ah, eu preciso ver meus amigos”
  • “Eu preciso ver minha família”

Veja, cada um sabe de si e eu não estou aqui para julgar ninguém. Toda história existem no mínimo 3 versões: A sua, a minha e a verdade. E eu acredito que agora, no final do ano, a maioria avassaladora da população já sabe o que pode e o que não pode fazer em relação a contaminação e cuidados. Já existe espaço para determinar protocolos na sua própria casa, ou no seu próprio quintal, e por ai vai. Na minha casa, por exemplo, recebemos no mês passado uma amiga e assim que ela chegou (óbvio que veio de Uber, máscara e com um vidro de álcool gel e estava cumprindo o isolamento social), pedi a ela que trocasse de roupa e tomasse um banho. Só depois disso pudemos sentar, relaxar e conversar. A princípio ela não entendeu, mas cumpriu o protocolo que foi estabelecido por nós em nossa casa. É isso ou não entra.

Bí ará ilé ẹní bá ńjẹ kòkòrò tí kò sunwọ̀n, tí a kò sọ fún un, hùrùhẹ̀rẹ̀-ẹ rẹ̀ ò níí jẹ́ ká sùn lóru.
Se um membro da família está comendo insetos ruins e não é advertido, sua tosse persistente não permitirá que ninguém durma durante a noite.

Não existe estratégia mais importante do que permanecermos vivos. Já basta todas as formas de extermínio que o sistema nos inflige e inventa a cada dia, nós ainda fazemos o favor de corroborar com todo este extermínio não cuidando de nós mesmos e dos nossos. Se isso não é triste eu não sei o que é.

Mo ní “Àjọwò”, wọ́n ní “Àjọwò”; ohun tí a bá jọ wò gígún ní ńgún
Eu disse: ‘‘ Vamos cuidar disso juntos ’’, e eles responderam: ‘‘ Vamos cuidar disso juntos ’’; tudo o que tem a atenção e o cuidado de todos sai direto.

Eu peço a gbogbo Òrìṣà (Todos os Orixás) que iluminem e deem bênçãos a todos os merecedores. Que Ọ̀ṣọ́ọ̀sí nos desperte a consciência, que Ògún nos dê caminho, que Ọ̀sanyìn ewèlè nos ajude nos processos de cura sendo “ìyẹn fòògùn bákú jà (Aquele que luta contra a morte com medicina), que Yemọja nos de colo e discernimento como Ìyá Orí que ela é, Que Ọbàtálá nos de paz e nos ensine cada vez mais treinar nosso cérebro para identificar caminhos que não nos pertencem. Enfim…que possamos ser agraciados quando merecermos.

Eu desejo a todos vocês um ótimo 2021. Eu queria muito dizer que não tem como ser um ano pior que 2020, mas falei a mesma coisa sobre 2019 e veja o buraco em que caímos. Porém, que 2021 possa ser um ano de muita felicidade com responsabilidade para todos nós.

Como diria Mano Brown: malandragem de verdade é viver. E que possamos reinventar este conceito para nos adequarmos as situações sempre.

P.S: Obrigado a todos que me acompanharam nesta jornada de Medium.

A kú ọdún o (Feliz ano novo)
Ẹ ṣeun A dúpẹ́! (Muito obrigado (a todos e a Olódùmare!!!)

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